A Água tem que ser vista como um produto

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A Água tem que ser vista como um produto



A Água que consumimos claramente foi processada, teve valor agregado e foi inserida em uma determinada cadeia de suprimento para ser entregue.


A Água que consumimos claramente foi processada, teve valor agregado e foi inserida em uma determinada cadeia de suprimento para ser entregue. Desta forma, não há como argumentar contra o fato de que ela é um produto e, portanto, na transição para a Economia Circular deve seguir, de forma estrita, todas as mesmas regras a que qualquer outro produto se submete. Quando a Água é considerada como um bem durável, ela deve ser mantida em um ciclo fechado, sob condições de descarte zero de líquidos e reutilizada o máximo possível. Nessa situação o maior objetivo não é manter a Água livre de contaminantes, mas garantir a integridade do ciclo fechado.

Esta estratégia é a ideal para situações onde pode ser muito oneroso remover os contaminantes (solventes de base aquosa, banhos de galvanoplastia, produtos para limpeza pesada, etc.). Há indústrias que especificamente se enquadram nessa situação e, obrigatoriamente, devem ser observadas com cuidado*.

No outro extremo deste espectro, ou seja, quando a Água é trabalhada como um bem de consumo, ela deve ser mantida pura e apenas entrar em contato (solução ou suspensão) com elementos que sejam fáceis, ou economicamente viáveis, de serem extraídos. Nesse contexto há algumas grandes armadilhas, como os produtos de baixa qualidade (corantes têxteis e tintas tóxicas encontradas em papeis sanitários reciclados de jornais) e o descarte indiscriminado de antibióticos e hormônios estrogênicos.

Respeitar a Água como um bem de consumo implica em respeitar dois paradigmas fundamentais:

– Toda a Água, incluindo Água Limpa e Cinza**, deve fluir em cascatas subsequentes para ser aplicada em outros propósitos; e

– Sempre que possível, nutrientes e energia devem ser extraídos da Água de consumo, no entanto não existem muitas novas tecnologias para serem aplicadas nesse processo, bem como outras inovações que incentivem o reuso.

Para respeitar esse último paradigma, dentro desse cenário de restrição de soluções, temos que constantemente monitorar a evolução de três eixos fundamentais de capacidades tecnológicas:

1) A capacidade de extrair energia;

2) A capacidade de extrais nutrientes;

3) A capacidade de reutilizar a Água;

No Globo encontramos, em situações especiais, aplicações intensas de tecnologia e recursos financeiros para estabelecer essas capacidades. No entanto, garantir que possamos alcançar estágios abrangentes de melhorias reais no tratamento e retorno seguro da Água ao sistema, requer intenso trabalho de desenvolvimento de soluções inovadoras, em todos os aspectos, para que possamos realmente acessar os benefícios da Economia Circular.

 

Notas complementares.

* Apenas para estabelecer a escala que a utilização de Água por algumas indústrias pode atingir, podemos utilizar o exemplo a instalação da Pearl Gas, no Qatar, que transforma hidrocarbonetos gasosos em líquidos e precisa processar 45.000 m3 de água diariamente em seu sistema.

Estação de tratamento de efluentes do complexo da Pearl Gas-to -Liquid, em Ras Laffan, no Qatar (https://goo.gl/LpR8UJ).

No referencial mínimo da WHO (World Health Organization – ONU), essa quantidade seria o suficiente para garantir o consumo (higiene e alimentação) de quase 2.300.000 pessoas.

Em uma escala maior de compromisso, obrigatoriamente, temos que citar o trabalho da Toyota em seu programa ‘”Enviromental Challenges”, com grande destaque da TMMF (Toyota Motor Manufacturing France) que tem como meta parar de utilizar o suprimento público de água entre 2030 e 2040, ou seja, trabalhar totalmente em ciclo fechado.

** Água Cinza é todo o fluxo de descarte doméstico que ainda está apto para o uso industrial e agrícola.

Este texto foi construído como uma semente para ampliar o seu significado, no contexto do uso da Água no Brasil, a partir da estrutura de um texto originalmente publicado pela McKinsey em maio de 2015, Rethinking the water cycle, em https://goo.gl/HtjorA

A próxima versão deste texto será ampliada, integrando o conteúdo de outro texto de destaque mundial para entendermos a Água como um produto, dentro dos paradigmas da Economia Circular, “Four ways water can join the circular economy revolution”, do jornal Britânico The Guardian.

Se você tiver alguma dúvida, ou contribuição, ficaremos muito felizes em ouvi-lo.

Obrigado.

Editoria ECBRASIL.

ECBRASIL (www.wpecbrasil.com.br) é o workplace da Economia Circular no Brasil e parceira do Grupo CAETANO na divulgação da importância de se entender o valor da Água.